Bom dia, companheiros!
Desde a última postagem, eu resolvi publicar trabalhos que tenho feito para a faculdade, seja porque gostei do resultado, seja porque acredito que o conteúdo é válido para ser difundido.
Eis aqui mais um, e acredito que é deveras importante para que todos saibam que nossa louvável mídia não é, nunca foi, e nunca será a "mocinha" da história.
Além disso, podemos avaliar a facilidade com que somos manipulados por ela, já que antes de assistirmos a um documentário como esse pensamos de um jeito, logo após mudamos completamente nossa visão das coisas. Ou não, já que o tema é significativamente polêmico. Formem suas opiniões, então.
Provavelmente, até aqueles que estão minimamente informados sobre os acontecimentos mundiais sabem da grande crise ocasionada por atitudes do Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, principalmente a partir de 2002. Segundo seus opositores, o golpe deferido contra ele foi resultado de suas próprias atitudes ditatoriais e de sua política contra os interesses dos Estados Unidos da América.
O que ninguém nunca se perguntou, provavelmente pelas incessantes acusações em todo o mundo, foi se tudo que informavam na mídia era o que verdadeiramente vinha acontecendo. Uma equipe de jornalistas irlandeses, incumbidos de descobrir o perfil daquele polêmico líder e de sua revolução bolivariana, foi obrigada a mudar o foco de seu trabalho ao se deparar com momentos iminentes ao golpe de Estado. Esse trabalho resultou no documentário A Revolução não será televisionada, produzido e dirigido por Kim Bartley e Donnacha O’Briain, em 2003.
Por ser um dos cinco maiores produtores de petróleo do mundo, a Venezuela é, desde a descoberta da sua riqueza, um alvo em potencial dos capitalistas, especialmente dos americanos, sendo um de seus principais fornecedores do produto. O perfil quase que socialista e anti-neoliberalista do presidente venezuelano, que se propôs a ir ao inferno para proteger os venezuelanos contra a política neoliberalista imposta à América Latina, conquistou a população pobre do país, que representa 80% do todo, mas criou inimigos bastante poderosos.
A eleição de Chávez por maioria esmagadora em 1998 deveu-se pela sua dedicação ao povo, pelo seu nacionalismo, e por acreditar e disseminar a idéia de que a riqueza do país deveria ser dividida entre os seus próprios habitantes, negando-se a manter relações com os países capitalistas ou aumentando significativamente o preço do petróleo; esses países, especialmente os EUA, viam na Venezuela uma fonte muito barata e fácil de adquirir o combustível, e, ao enfrentarem a idéia da alta de preços, sentiram-se acuados e completamente prejudicados.
Obviamente, não é do perfil estadunidense sair no prejuízo, e os americanos logo trataram de solucionar seus problemas. No início as acusações eram de que o presidente apresentava insanidade mental, era crítico dos EUA, amigo íntimo de Fidel Castro, e que até sentia desejos sexuais por ele; Chávez era acusado, também, de comunista, totalitarista, de ser apoiado na violência, de ser agente de Fidel e das guerrilhas colombianas, além de querer impedir o desenvolvimento de seu país.
O curioso é que a opinião da população era bastante diferente. Chávez tinha também como objetivo promover a conscientização da população quanto a valorizar seu país e sua riqueza; para isso, mantinha um programa de rádio e televisão semanal, e recebia milhares de cartas diariamente de pessoas que o apoiavam e confiavam seus desejos e suas necessidades a ele; ele era a representação de esperança para o povo.
Em seu governo, diferentemente de outros antigos, foi vigente a liberdade de expressão, ao contrário do que muitos pensam; sua política promovia intensa atividade e participação política, depois de muita repressão sofrida anteriormente. Acontece que, como em muitos outros casos, esses detalhes não foram veiculados em nenhum espaço de comunicação do mundo, ofuscando o verdadeiro sentido das ações de Chávez.
Não satisfeitos com as calúnias deferidas contra o presidente, os americanos aliaram-se aos militares venezuelanos, de maneira discreta, e organizaram o golpe que tirou Hugo Chávez do poder, mesmo que por reduzido tempo. O primeiro passo foi a manipulação de imagens do massacre de Caracas, a fim de acusar o chavismo de ter ocasionado o desastre. Com essa arma na mão, os opositores poderiam culpá-lo, obrigando-o a renunciar ao cargo.
Em seguida, os militares e seu comando cortaram o sinal do canal 8, através do qual o presidente se comunicava com a população, e invadiram o Palácio de Miraflores com uma carta de renúncia em mãos. Negando-se a assiná-la, Chávez foi levado pelos militares, e a população viu-se desprotegida e sem notícias de seu líder.
No dia após o golpe, o país acordou com a vigência de outro regime, que seus comandantes diziam ter sido instituído para que voltassem a reinar a justiça, a igualdade e a responsabilidade social, além da necessidade da recuperação da unidade institucional do país.
O povo, revoltado e baseado nas leis democráticas, viu-se na obrigação de lutar por seus direitos e resgatar seu presidente. Então, após dois dias do golpe, a guarda presidencial, apoiada pelo povo, invadiu o gabinete onde estavam os militares, mas os principais conseguiram fugir, entre eles Pedro Carmona. Eles recuperaram a emissora e puderam espalhar a notícia para o resto do país.
Até que Chávez pudesse voltar e assumir, o vice-presidente, que até então vinha sendo mantido escondido, ficaria em seu lugar até a chegada do seu superior. O vice deu ordem para que três comandantes voassem até a República Dominicana, onde supostamente o presidente estaria, e trazê-lo de volta. E, de fato, ele voltou. Com toda força para administrar com atividade e eficiência o seu governo.
Os EUA, obviamente, negam participação no golpe; alguns generais dissidentes fugiram para o território americano, outros trabalham atualmente para a oposição.
Entretanto, todo esse acontecimento serviu para provar que o povo ainda tem voz para mudar alguma coisa, basta ação. O problema das sociedades atuais é seu conformismo, sua inércia, ou possivelmente seu medo e insegurança, que impedem a solução de problemas que poderiam deixar de ser tão complexos.
Todo esse retrocesso serviu para o fortalecimento de uma conclusão já antes obtida por muitos. A força política e o poder que a mídia detém são inegáveis. Foi criada uma máscara que cobriu por muito tempo a história do golpe da Venezuela, uma máscara construída não por uma fonte de comunicação, mas por todas. A mídia uniu-se como um todo, defendendo particulares interesses e seus próprios, e conseguiu criar e propagar uma imagem extremamente negativa do líder venezuelano. E, talvez, essa imagem, como outras já construídas, nunca venha a mudar completamente.
O FREELANCER – Editorial
Há 7 anos