Há muito uma vontade avassaladora de escrever não me atingia. Estranho, até, uma vez que eu deveria me alimentar dessa ação. O fato é que temas não me ocorriam, minhas ideias estavam pobres, eu me encontrava amorfa. Felizmente, o desejo foi resgatado, desencadeado pela satisfação de ser tocado por algo que alguém fez ou por alguém que fez algo. A admiração de um trabalho incrível.
É da natureza humana inpirar-se e espelhar-se em alguma coisa para trilhar seu próprio caminho. Exemplos de vida e de trabalho são traçados para que outros possam segui-los. Sempre existe alguém que serve de modelo para outrem. E assim as pessoas vão vivendo, apoiando-se em conceitos de perfeição já estabelecidos. Até que outro alguém faz melhor do que o modelo anterior. Inicialmente, há resistência; em seguida, aceitação. E, assim, o mundo evolui.
É óbvio que existem aqueles que se recusam a ser iguais aos outros, e querem sempre fazer a diferença. Naturalmente, é graças a eles que as diversidades e os melhoramentos surgem. Mas, no fundo, esses "diferentes" acabam por resgatar algo do que se entendia por melhor anteriormente.
Acabo de assistir ao tão famoso filme "Capote", que conta uma parte da história de Truman Capote, o jornalista mais conhecido dos EUA, talvez do mundo, que revolucionou a literatura nos anos 60. Não vim aqui para escrever sobre o filme ou mesmo sobre o livro "A sangue frio", que tornou tal jornalista um dos mais consagrados da História. Ainda não tive a chance de lê-lo. Pretendo, sim, mostrar a minha admiração pelo trabalho desse homem, que, a partir de hoje, é meu exemplo.
A "receita" básica que se espalha pelo mundo para ser um bom jornalista é a seguinte: apenas misture curiosidade, objetividade, neutralidade, amor pela profissão e uma boa escrita e, voilá, serás um profissional razoável.
Todavia, quem quer ser somente razoável? Ninguém! Eu não quero. Acontece que ser um jornalista não é apenas retratar o factual, o corriqueiro, o banal. Porque tudo isso é vida. Todo jornalista é alguém. Alguém com conteúdo, emoções, sentimentos, ideias. O bom jornalista não é aquele que não se envolve com nada, que está sempre alheio ao interior das pessoas ao redor. Não. É aquele que consegue perceber que os outros estão vivos. É aquele que compreende os vários lados do prisma que é o homem.
E foi isso que Truman Capote fez em seu último livro. Sim, o livro era um "romance de não-ficção", em suas próprias palavras, e, logo, exigia uma abordagem diferente. Entretanto, o que é admirável é a capacidade que ele teve de conquistar as pessoas que precisavam atravessar seu caminho. A princípio, sua lábia era premeditada. Mas, na medida em que ele se envolve com o enredo, com o caso, com os assassinos, Capote vai se tornando cada vez mais sensacional. Ele constrói uma amizade com os réus, amizade esta que vai te custar a paz. Como "bom jornalista", seu dever era acabar com ela, retornar à objetividade. Em vão, tentou. Era tarde demais. Ele já estava emocionalmente envolvido. E assim ficou para sempre, mesmo após a morte por enforcamento dos culpados. Provou, dessa forma, que ele sentia.
Para mim, isso é um Jornalista, com letra maiúscula. Porque envolver-se não é errado. É humano.