Resolvi postar hoje um trabalho que eu fiz para a disciplina Estética, uma resenha crítica de um filme.
Como quando eu fui ler outras críticas só as achei em blogs, resolvi dar mais uma ajudinha a quem for fazer uma próxima vez!
Boa leitura.
No universo de filmes incrivelmente interessantes e criativos, apresento-lhes uma visão de mais uma produção que está contida nesse espaço, cujo nome é “Sonho Tcheco” (2003), obra resultante do projeto final de graduação de dois estudantes de cinema da República Tcheca, que, inicialmente, diziam não saber o porquê dessa idéia.
O filme de Vít Klusák e Filip Remunda é, na verdade, o roteiro da criação de um hipermercado fictício. A idéia era proporcionar toda uma construção publicitária completa para convencer a população tcheca de que comprar naquele hipermercado seria a solução de suas vidas; tinha, inclusive, hora e dia marcados para a inauguração. Para isso, os quase-cineastas conseguiram envolver as maiores empresas de publicidade e de comunicações do país, além de toda uma equipe para construir suas próprias imagens de proprietários de negócios.
Alguns envolvidos nesse “processo mentiroso” não aceitaram a experiência de enganar pessoas por acharem que aquilo era falso e manipulador, chegando ao ponto de dizer que, se cineastas mentem, publicitários não o fazem. Pura hipocrisia, em minha opinião. A publicidade tende a persuadir as pessoas, muitas vezes “omitindo” aspectos do verdadeiro.
Óbvio que o objetivo dos criadores era ver até onde a mentira conseguiria chegar, até onde as pessoas acreditam no que vêem e escutam, e qual seria a reação da mídia e do público ao descobrirem que tinham sido ludibriados. Provavelmente, outro objetivo dos estudantes era testar o poder que a publicidade exerce sobre as pessoas, além de tocar no ponto do consumismo irrefreável, já que as pessoas sujeitam-se a horas nas filas para comprar produtos que muitas vezes são supérfluos. Entretanto, o filme pode levar a análises sob outras óticas, principalmente depois de assistirmos ao resultado dessa experiência de brincar com a verdade e a mentira.
Como já era de se esperar, a reação geral do público não foi muito amigável. As principais sensações avaliadas foram revolta, ofensa, ódio, tudo intercalado de risos de deboche. Afinal, quem gosta de ser enganado? Os jovens produtores sofreram ameaças de processos, foram xingados de trapaceiros e coisas piores.
Palavras dos próprios enganados podem ilustrar melhor a situação: “O país inteiro é uma grande fraude; pessoas enganadas assim é ultrajante! É uma boa piada, queriam ver quantos caíam nela”; “É uma ilusão; esse dia ficará marcado”; “Somos tratados como um bando de gado tcheco”. Mesmo parecendo algo impossível, alguns outros afirmavam já esperar por aquilo, pois nenhum hipermercado venderia produtos àqueles preços. O curioso é que a publicidade do suposto hipermercado fez uso de uma “psicologia invertida”, usando slogans como “Não venha” e “Não gaste seu dinheiro”. Irônico.
Diante desse quadro de indignação, é possível fazermos algumas reflexões a respeito da “moral do filme”. As coisas ao nosso redor estão tão misturadas entre verdades e mentiras, real e ilusório, que quase ninguém consegue mais distinguir a diferença entre eles. O mundo ilusório, que tende sempre mais a fazer parte do mundo em que vivemos, é uma teia que envolve cada vez mais pessoas, de forma a não deixar que elas encontrem o caminho do real. A linha entre essa antítese é muito tênue, imperceptível até.
Como visto, para criar um mundo falso não é muito difícil, em termos. Basta construir uma imagem, à base de muita persuasão, que pareça suficientemente concreta do objeto desejado. Pronto. As pessoas adentram na idéia de maneira rápida e fácil.
Se alguém no filme tivesse senso crítico suficiente perceberia que é isso que está acontecendo ao nosso redor; as construções de simulacros são constantes. No caso do filme, com a publicidade, mas o quadro é geral, em todos os aspectos; na arte e na vida. É como se as pessoas fossem adestradas a acreditar em tudo ao seu redor, seja verdadeiro ou não.
Outra questão é: os cineastas estão no direito de enganar pessoas? Merecem ser processados? É uma questão delicada. Não que devamos aplaudir atos como esse, mas acontece que todos estão sendo enganados freqüentemente, o que eles fizeram, apenas, foi assumir suas responsabilidades. Fica a reflexão para cada um. Para os tchecos, a lição é: nunca acredite em cineastas. Será?
Mesmo eu não sendo do tipo que espera horas na fila esperando alguma coisa abrir para o público, admito que, em outras circunstâncias, cairia nessa encenação. No entanto, são críticas como essa que nos fazem pensar duas vezes antes de acreditar em qualquer coisa.
O filme pode parecer para alguns um “teste de imbecilidade”, mas todos estão sujeitos a cair nessa armadilha. Portanto, não são os tchecos os facilmente manipuláveis, mas todos nós. A idéia do filme é simplesmente genial.
Bom fim de semana!
Beijos, Luminosidade.