Boa noite, leitores sobreviventes!
Às vésperas da chegada de um novo ano, criei vergonha na cara e resolvi atualizar esta página, tão marginalizada, coitada, pelo pecado da preguiça.
O que contarei hoje é uma coisa que sempre me afligiu, mas acredito que raras vezes expus tal sentimento, ou melhor, tais sentimentos.
Não quero parecer uma falsa salvadora da pátria, das injustiças, das avarezas. Jamais. Não seria capaz disso. Nem tampouco pretendo tentar ser Madre Teresa de Calcutá; que ousadia seria.
Apenas o que tento aqui é exteriorizar uma angústia, que, posso dizer de todo o meu coração, é muito sincera.
Enfim, arrodeios só dificultam o caminho. Vamos às confissões, fazendo jus ao nome do blog.
A pobreza sempre mexeu muito comigo, sempre me afetou. Raríssimas vezes passei por um semáforo repleto de crianças carentes ao redor sem encher meus olhos de lágrimas. Não é mentira. Acho que herdei essa compaixão da minha família, e só tenho a agradecer. Talvez tenha aprendido com os ensinamentos religiosos, com a fé. Não posso dizer com certeza. Recebo inúmeros e-mails diariamente que retratam a pobreza do mundo, do nosso país. Isso me entristece tanto, tanto, que nem posso contabilizar. Em qualquer lugar que estou, se vejo pedintes, mulheres grávidas, homens que dariam a vida para poder alimentar os filhos, crianças vazias de nutrição, de amor. Até mesmo quando percebo que são arruaceiros, "preguiçosos" que se acostumaram com a vida de pedir, sinto pena daquelas pessoas, pois isso provavelmente só aconteceu por falta de oportunidades. A sociedade foi alicerçada ao longo dos anos com uma camada sólida de discriminação, de falta de igualdade, de falta de respeito, de falta de ajuda mútua.
Freqüentemente reflito sobre o que essas pessoas pensam. Como elas reagem a esse tipo de diferença, se elas percebem o quão injusta a vida é. Uns têm muitíssimo, outros não têm nada. Isso me faz mal.
Sinto-me mal também quando vejo a minha empregada doméstica, que tanto prezo por seu caráter e personalidade, trabalhando duro na minha casa, com dores, sem dores, chovendo, nevando, ensolarando, enquanto eu durmo o dia inteiro, faço minha bagunça, deixo para ela recolher minhas desorganizações de quem tem a vida ganha.
Ou seja, sinto-me mal por todos que têm uma condição social pior que a minha. Por que tudo tem que ser assim? Se todos tivessem as mesmas coisas, tudo não seria muito mais harmônico? Afinal, essas diferenças são uma das causas das desavenças mundias. Riqueza. Poder. Riqueza. Poder. É o que todos almejam.
Mas, e quem passa fome? Onde fica? Na rua, definhando cada vez mais.
E querem saber o pior? A maior das hipocrisias?
Eu, que tanto sinto e tanto choro, não faço NADA para melhorar isso. Assim como muitos outros iguais a mim.
Sinto vergonha, peço perdão a Deus por ser tão inútil, por não sair do cubículo no qual eu vivo.
E não foi essa inércia que eu aprendi com a minha família ou com a minha Igreja.
Sinto pena, deles e de mim.
Desejo um dia crescer e mudar. Eu e o mundo.
Pesares,
Luminosidade.
O FREELANCER – Editorial
Há 7 anos